Resumo
Este texto é uma reflexão a respeito do tratamento arquivístico para o suporte de papel e o
digital. Este assunto carece de especial atenção, e com a Lei 12.682 de
09/07/2012, que trata a respeito da digitalização e do armazenamento do
documento eletrônico, verifica-se que a seriedade em torno deste tema já é pauta da agenda do
governo. Fato que dispõe não tratar-se da substituição de um suporte pelo outro, mas
de assegurar a preservação de ambos.
Palavras-Chaves: suporte de papel,
suporte digital, documento eletrônico, acesso à informação, tratamento arquivístico.
Sem dúvida os Arquivistas estão diante
de um desafio, e se impõe questionamentos a respeito principalmente do
tratamento arquivístico que deve ser dado aos suportes dos documentos digitais.
Tamanha é a relevância que se
fala de mudanças que afetam aos paradigmas da arquivística diante da
pós-modernidade. Fato que podemos verificar na análise de Maria Odila Fonseca
em “Arquivologia e ciência da informação”, que considera o conceito de Thomas
Khum, para quem paradigma é “aquilo que os membros de uma comunidade partilham”.
E, quando este paradigma se defronta com uma anomalia, pode sofrer um
estremecimento em sua estrutura, propiciando, assim, o surgimento de um novo
paradigma. Configura-se, então, como novo paradigma “uma reconstrução da área
de estudos a partir de novos princípios” (FONSECA, 2005: 57).
De fato os assuntos que giram em torno dos documentos digitais, os quais
podem ser produzidos, processados e manipulados mediante a utilização de
computadores, são objetos de grande interesse e carecem de uma atenção
especial. Ressalta-se que o termo especial, ao ser abordado pela Marilena Leite
Paes em Arquivo Teoria e Prática, demonstrando a preocupação com documentos de
formas físicas diversas que deveriam ter um tratamento arquivístico especial, dentre os quais são citados o disquete e o
CD-ROM, já aponta um passo rumo à consideração aos documentos eletrônicos.
Contudo, reflete a tamanha carência de se aprofundar os estudos sobre este tema.
Os documentos em meios
eletrônicos cada vez mais ganham espaço, e a rapidez de acesso às informações
por intermédio destes meios, promove também a sua aceitação para os usuários de
uma forma geral.
Contudo, penso que o suporte do
documento eletrônico tem se mostrado como uma espécie de calcanhar de Aquiles
para os Arquivistas, pois predispõem-se sob uma fragilidade no que tangue a uma
identificação que no longo de anos atribui-se aos documentos, que decorre do
fato dos modelos tradicionais associarem a informação conteúdo do documento com
o próprio suporte documental, a exemplo, verificamos no Capítulo 1 de Arquivos
Modernos, que Schellenberg ao tratar a respeito da importância dos Arquivos,
dispõe que para o senso comum os documentos são identificados como papeis.
Não diferente desta constatação,
ainda hoje podemos observar como algo comum para as pessoas de um modo geral, a
associação do documento ao papel. Muitos só se dão conta de sua importância à
medida que precisam encontrá-los, quando talvez, deixa de ser um papel guardado
para ser o suporte de uma importante informação, o documento. E, este aspecto demonstra
que vem sofrendo alterações com as novas tecnologias de informação e
comunicação. Pois este novo ambiente parece atrair cada vez mais usuários que
passam a ter maior contato com inúmeras informações.
Assim, é factível que a mudança
está ocorrendo, e possivelmente, mudança contínua seja um fator a ser
considerado. E nesta concepção torna-se essencial encontrarmos um ponto de
equilíbrio capaz de estabelecer bases seguras para armazenamento de dados,
conhecimentos e informações, ao mesmo tempo, que possam ser acessados e “manipulados”
sem sofrerem alterações, mesmo diante da necessidade de migrações inerentes aos
sistemas informáticos.
Neste contexto, levanta-se à
questão da digitalização, como se esta ação, pudesse transpor os documentos
convencionais para este novo ambiente, podendo-se com isto pressupor vantagens sem riscos, como por exemplo, a substituição dos documentos
em papel pelo digital.
Neste ponto é interessante
destacar que tal preocupação já está presente nos arquivos do governo ao ponto
deste assunto ser objeto de lei. A Lei 12.682 de 09/07/2012, que dispõe sobre a
elaboração e o arquivamento de documentos em meio eletromagnéticos, trata a
respeito da digitalização e do armazenamento do documento eletrônico. Esta Lei
define como digitalização a conversão da fiel imagem de um documento para o
código digital. Prevê que a digitalização deve manter a integridade, a
autenticidade e, se necessário, a confidencialidade do documento digital. Dispõe
que os meios de armazenamento dos documentos digitais deverão protegê-los de
acesso, uso, alteração, reprodução e destruição sem a devida autorização.
Determina que deve ser adotado sistema de indexação que possibilite a precisa
localização deste tipo de documento. E, que os registros públicos originais,
ainda que digitalizados, deverão ser preservados.
No Artigo 6º ao abordar que “Os
registros públicos originais, ainda que digitalizados, deverão ser preservados
de acordo com o disposto na legislação pertinente”, nos indica que a preocupação das
instituições públicas não está simplesmente na simples medida de precaução, mas principalmente se apresenta como medida de controle contra a eliminação equivocada de documentos, bem como busca evitar a substituição
do suporte de papel pelo digital.
É interessante e reconhecível a
ideia de plena de disponibilização dos documentos por estes meios. Contudo, que
se ressalte a finalidade de tal ação. Qual o objetivo de se digitalizar os
documentos? Para auxiliar na disseminação das informações? Perfeito. Para
substituir os documentos convencionais? Prematura esta ideia. Talvez a pergunta
chave em torno da finalidade deste tipo de tecnologia não seja enseja a simples
substituição. Muito mais a facilidade e rapidez, a otimização de operações
antes mais complexas, e sobre tudo, não se perdendo de vista a segurança de que a
utilização deste meio não se desdobre em obsolescência e encarecimento do
processo.
Sem dúvida o acesso aos diversos
documentos via internet propiciam uma série de vantagens, que vão desde
aspectos de economia, de rapidez e comodidade, até à aproximação da sociedade
às questões governamentais, e esta última caracteriza, inclusive, o acesso às
informações contidas nos arquivos públicos como fundamental para a efetivação
do direito à informação. E, estes, dentre outros pontos, se apresentam como
positivos para os usuários de uma forma em geral.
Neste âmbito, no que concerne ao
arquivista, penso que se evidencia uma grande oportunidade que evoca a
problemática em relação ao acesso a informação. Será imprescindível estabelecer
uma íntima relação com o usuário, não apenas no que tange a este numa interação
com o Sistema como se bastassem digitar os dados e jogar informações nas redes
de computadores; fazer upload, download e pronto; como se não houvesse a
necessidade das informações serem tratadas, como se profissionais para este
trabalho não existissem, tem-se com esta grande oportunidade, proporcionalmente
o grande desafio de se delinear um espaço neste contexto para este profissional
da informação.
Assim, fica a pergunta. Qual é a
principal questão, o suporte ou a informação?
Para tanto, dentre outros
questionamentos que podem ser levantados, deixo para a discussão em relação ao
“original”; perguntas.
Se o suporte de papel ainda
levará gerações para ser substituído? Se é que o será? E, se o for. Talvez, o que
devemos nos perguntar, é: qual o papel do Arquivista neste novo contexto
digital?
Se nos acostumamos com o papel e
com as pastas, onde a presença física era imprescindível e mesmo assim, os
arquivistas ainda discutem a necessidade de se projetar profissionalmente e
demonstrar sua importância. Não seria este o momento de consolidar a área e se
antecipar ao público de uma forma geral com soluções de acesso às informações de
forma tanto qualitativa quanto quantitativa?
Conclusão
Com as tecnologias de informação
e comunicação, cada vez mais pessoas passaram a ter acesso às informações. Este
contexto, contudo, trouxe mudanças que passaram a exigir ambientes especiais
para que as informações pudessem estar disponíveis. Fato que tem levado
profissionais como os arquivistas a renovarem suas preocupações com aspectos
inerentes às características dos documentos, dentre os quais está a questão do
suporte.
As informações carecem de um
suporte para serem afixadas, para que então, os registros documentais sejam
acessíveis sob uma forma compreensível à efetiva apropriação da informação. Consequentemente,
este suporte precisa ser compatível ao usuário e à informação no sentido de ter
sua usabilidade assegurada.
Assim, os arquivistas
encontram-se entre excelentes questões para responderem. Afigura-se a
necessidade de se aprofundar o tema sobre qual a forma de tratamento dos
documentos eletrônicos. E neste ínterim, em que a mudança contínua se apresenta
como um desafio para o tratamento arquivístico destes documentos, verifica-se que não basta apenas
digitalizar, como se a solução fosse apenas converter os textos do suporte em papel para o formato digital. Também é preciso preservar e garantir que as mudanças não alterem
às informações.
E assim, da mesma forma como o
papel um dia exigiu que se chegasse a tratamentos especiais para que se preservasse
à integridade do suporte da informação, também o ambiente digital aguarda por
esta solução; que talvez não esta em se preservar o suporte em si que carrega a
informação, mas a forma de decodificação desta informação em qualquer que seja
o suporte que ela venha a ser carregada para acesso.
Referência
FONSECA,
Maria Odila. Arquivologia e ciência da
informação. FGV, Rio de Janeiro, 2010.
Lei 12.682 de 9 de julho de 2012. Dispõe sobre a elaboração e o arquivamento
de documentos em meios eletromagnéticos.
SCHELLENBERG, T. R. Arquivos Modernos: princípios e técnicas. Importância dos arquivos. 6 ed. – Rio de Janeiro: Editora FGV, 2006. p. 25-33. Tradução de: Nilza Teixeira Soares.
2 comentários:
Questionar o digital deve ser uma prática arquivística moderna. Assim como foi questionar o uso de sistemas de recuperação automatizados via computador em substituição as famosas fichas e catálogos.
o mundo moderno nos permite gerar incontáveis e diversificadas informações que se agrupam e acumulam numa velocidade maior que a compreensão de nossa mente. Visto isso a discussão acima citava é não somente pertinente como se faz presente, mesmo que você não repare.
A pouco me foi imposto um questionamento sobre o digital que sem perceber tive de tomar uma decisão rápida. ao digitalizar uma imagem em negativo de celulose o scanner me disponibilizava uma série de formatos possíveis (tif, jpeg, jpg, gif, etc.) dai imaginar o que se tem como padrão? o que se priorizar? um usuário comum diria de cara, o que ocupar menos espaço no HD ( ai vc escolhe gif), um que tenha qualidade mas não ocupe muito espaço (jpeg), eu quero é qualidade (tif). O formato digital te permite que uma mesma informação tenha padrões e características diferenciadas que devem, ou deveriam, estar padronizadas para cada situação. Bem, no meu serviço, o padrão é utilizar imagens de alta qualidade e resolução para atender solicitações e usar as imagens mais simples e leves para visualização rápida (ou quando solicitado, utilizar como resultado final).
são multiplos os questionamentos, e são multiplos os pontos de vista sobre cada ponto. o que cabe aqui são discussões quase infindas mas que devem resultar num material de orientação que possa servir de parâmetro e que este esteja amparado pela legislação e em conformidade com ela.
abraços
Vinícius, primeiramente, dou as boas vidas ao Blog Perspectiva Arquivística e dou crédito aos teus pertinentes comentários.
Interrogar às práticas, se debruçar na literatura, observar e extrair das atividades diárias uma solução capaz de melhorar a rotina e facilitar a vida das pessoas é o objetivo que se propõe e se impõe no universo de qualquer ramo de pesquisa que buscar por excelência.
Na Arquivística não é diferente, e esta observação sobre a diversidade de formatos e as possibilidades de tratamento para os documentos nos ambientes eletrônicos de fato comprovam o vasto campo de investigação inerente a esta área. Não precisaria ser mencionado que tal ambiente carece de total atenção e cuidado para o Arquivista dar o adequado tratamento ao documento, sem perder a sua qualidade.
Nesta perspectiva de qualidade, percebo principalmente a preocupação com o usuário. Neste caso acredito, no mínio, se estar no caminho certo, pois um dos objetivos do Arquivista é de disponibilizar a quem precisar a informação certar, na ora certa, e no ambiente certo.
Assim, entre o formato eletrônico e o usuário, que seja a informação acessível, e entre o arquivista o sistema e às escolhas, que seja o usuário a razão de todo o seu trabalho.
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